No trecho "O silêncio de quando nos vimos a primeira vez atravessa a cozinha como um rio profundo", é possível identificar a utilização de duas figuras de linguagem específicas: a personificação e a comparação. Essas figuras de linguagem são empregadas para criar uma imagem mais vívida e expressiva, adicionando profundidade emotiva e interpretativa ao texto.

Personificação (Prosopopeia): Consiste em atribuir características humanas a algo que não é humano. Neste caso, o "silêncio" é descrito como capaz de atravessar a cozinha, uma ação típica de seres com capacidade de movimento e intenção, o que humaniza o silêncio, conferindo-lhe uma dimensão mais palpável e significativa. 

Comparação: É a figura de linguagem que estabelece uma relação de semelhança entre dois elementos por meio de um comparativo. No trecho, o silêncio é comparado a "um rio profundo" através do uso da palavra "como". Essa comparação não só amplifica a ideia do silêncio, mas também sugere profundidade, continuidade e uma certa tranquilidade ou mistério, características essas associadas a rios profundos. 

Para entender por que as outras alternativas são incorretas:

Antítese e oximoro (Alternativa A): Ambas são figuras que envolvem a junção de ideias ou palavras de significados opostos, o que não ocorre no trecho analisado. 

Hipérbole e metáfora (Alternativa B): A metáfora é uma comparação implícita, e embora "rio profundo" possa parecer uma metáfora para o silêncio, a presença explícita de "como" indica que é uma comparação. Hipérbole (exagero) também não está claramente presente aqui. 

Metonímia e perífrase (Alternativa C): Metonímia é o uso de uma parte ou qualidade de algo para representar o todo, e perífrase é uma descrição que substitui o nome comum do objeto. Nenhuma dessas figuras aparece claramente no trecho. 

Com base nessas análises, a alternativa correta é, sem dúvida:

Gabarito: Letra D

Há mulheres que dizem: 
Meu marido, se quiser pescar, pesque, 
mas que limpe os peixes.
Eu não. A qualquer hora da noite me levanto, 
ajudo a escamar, abrir, retalhar e salgar.
É tão bom, só a gente sozinhos na cozinha, 
de vez em quando os cotovelos se esbarram, 
ele fala coisas como “este foi difícil” 
“prateou no ar dando rabanadas” 
e faz o gesto com a mão.
O silêncio de quando nos vimos a primeira vez 
atravessa a cozinha como um rio profundo.
Por fim, os peixes na travessa, 
vamos dormir.
Coisas prateadas espocam: 
somos noivo e noiva.

Em "a": Certo –&nbsp; Trata-se de uma metáfora, pois estamos diante de uma comparação implícita, ou seja, a comparação com o vocábulo "pau". Em "b": Errado –&nbsp; Não se trata de uma metonímia, pois não há substituição de palavras por outras de sentido equivalente, por exemplo, como em "a empresa precisava de muitas mentes para resolver a questão" em vez de "a empresa precisava de muitos professores para resolver a questão". Em "c": Errado –&nbsp; Não se trata de relativizar uma ideia, tornando-a com um teor não tão negativo, por exemplo. Em "d": Errado –&nbsp; Não há o empréstimo de sentimentos humanos a seres inanimados, por exemplo. Resposta: Letra A.

exagero ao comparar a história com um raio de sol.

comparação e palavras que se opõem quanto ao sentido.

ironia ao contrapor o estado da moça aos atributos do 
sol.

comparação implícita entre a vida da moça e um raio de 
sol.

Em "a": Errado – Não há apenas esse exagero, como também ideias opostas entre si. Em "b": Certo – Há comparação e também palavras opostas, como em "vivo" e "doente". Em "c": Errado – Não se trata de ironia, pois, nesse contexto, as palavras designam o sentido próprio delas, Em "d": Errado – Trata-se de uma comparação explícita. Resposta: Letra B.

Meu ideal seria escrever uma história tão engraçada 
que aquela moça que está doente naquela casa cinzenta 
quando lesse minha história no jornal risse, risse tanto que 
chegasse a chorar e dissesse – “ai meu Deus, que história 
mais engraçada!”. E então a contasse para a cozinheira e 
telefonasse para duas ou três amigas para contar a história; 
e todos a quem ela contasse rissem muito e ficassem 
alegremente espantados de vê-la tão alegre. Ah, que minha 
história fosse como um raio de sol, irresistivelmente louro, 
quente, vivo, em sua vida de moça reclusa, enlutada, 
doente. Que ela mesma ficasse admirada ouvindo o próprio 
riso, e depois repetisse para si própria – “mas essa história 
é mesmo muito engraçada!”. 
Que um casal que estivesse em casa mal-humorado, 
o marido bastante aborrecido com a mulher, a mulher 
bastante irritada com o marido, que esse casal também 
fosse atingido pela minha história. O marido a leria e 
começaria a rir, o que aumentaria a irritação da mulher. 
Mas depois que esta, apesar de sua má vontade, tomasse 
conhecimento da história, ela também risse muito, e 
ficassem os dois rindo sem poder olhar um para o outro 
sem rir mais; e que um, ouvindo aquele riso do outro, se 
lembrasse do alegre tempo de namoro, e reencontrassem 
os dois a alegria perdida de estarem juntos.

“Mudei-me no mesmo dia para um hotel.” (14º§)

“Intrigado, olhei as solas dos sapatos, para ver se havia pisado em alguma coisa lá na rua.” (10º§)

“Podia andar para lá e para cá sem encontrar ninguém varrendo o chão ou espanando os móveis, [...]” (1º§)

“Aproximei-me, protegendo o nariz com uma das mãos, enquanto me curvava e com a outra abria o forno.” (11º§)

“Depois saí farejando o ar aqui e ali como um perdigueiro, e acabei sendo conduzido à cozinha, onde ultimamente já não ousava entrar.” (10º§)

Vamos analisar cada uma das alternativas para identificar a figura de linguagem utilizada e a justificação da escolha correta. Figuras de linguagem são recursos estilísticos usados para conferir ênfase, expressividade ou uma interpretação peculiar ao texto.

<ul style="margin-bottom: 1.5em;">
<li>Alternativa A: "Mudei-me no mesmo dia para um hotel." Este trecho apresenta uma ação direta sem recorrer a expressões figuradas ou estilísticas. Portanto, não há exploração de figuras de linguagem aqui.</li>
<li>Alternativa B: "Intrigado, olhei as solas dos sapatos, para ver se havia pisado em alguma coisa lá na rua." Este segmento é bastante literal e descreve ações diretas do narrador, sem o emprego evidente de figuras de linguagem.</li>
<li>Alternativa C: "Podia andar para lá e para cá sem encontrar ninguém varrendo o chão ou espanando os móveis, [...]" Este trecho não se destaca por empregar figuras de linguagem; é uma descrição objetiva de atividades cotidianas na ausência de outra pessoa.</li>
<li>Alternativa D: "Aproximei-me, protegendo o nariz com uma das mãos, enquanto me curvava e com a outra abria o forno." Assim como as anteriores, esta frase é uma descrição clara e direta das ações do narrador, sem o uso de recursos estilísticos que remetam a figuras de linguagem.</li>
<li>Alternativa E: "Depois saí farejando o ar aqui e ali como um perdigueiro, e acabei sendo conduzido à cozinha, onde ultimamente já não ousava entrar." Este trecho emprega uma metáfora, ao comparar o comportamento do narrador ao de um "perdigueiro," uma raça de cão conhecida pelo olfato apurado. Essa comparação é uma forma expressiva de figurar a intensidade com que o narrador tentava localizar a fonte de um cheiro.</li>
</ul>

Com base na análise, a Alternativa E é a correta porque utiliza a figura de linguagem da metáfora, ao comparar as ações do narrador com as de um perdigueiro, explorando uma relação expressiva entre a palavra e seu significado. Assim, a alternativa correta é E.

    Como bom patrão, resolvi, num momento de insensatez, dar um mês de férias à empregada. No princípio achei até bom ficar completamente sozinho dentro de casa o dia inteiro. Podia andar para lá e para cá sem encontrar ninguém varrendo o chão ou espanando os móveis, sair do banheiro apenas de chinelos, trocar de roupa com a porta aberta, falar sozinho sem passar por maluco.
    Na cozinha, enquanto houvesse xícara limpa e não faltassem os ingredientes necessários, preparava eu mesmo o meu café. Aprendi a apanhar o pão que o padeiro deixava na área – tendo o cuidado de me vestir antes, não fosse a porta se fechar comigo do lado de fora, como na história do homem nu. Esticar a roupa da cama não era tarefa assim tão complicada: além do mais, não precisava também ficar uma perfeição, já que à noite voltaria a desarrumá-la. Fazia as refeições na rua, às vezes filava o jantar de algum amigo e, assim, ia me aguentando, enquanto a empregada não voltasse.
    Aos poucos, porém, passei a desejar ardentemente essa volta. O apartamento, ao fim de alguns dias, ganhava um aspecto lúgubre de navio abandonado. A geladeira começou a fazer gelo por todos os lados – só não tinha água gelada, pois não me lembrara de encher as garrafas. E agora, ao tentar fazê-lo, verificava que não havia mais água dentro da talha. Não podia abrir a torneira do filtro, já que não estaria em casa na hora de fechá-la, e com isso acabaria inundando a cozinha. A um canto do quarto um monte de roupas crescia assustadoramente. A roupa suja lava-se em casa – bem, mas como? Não sabia sequer o nome da lavanderia onde, pela mão da empregada, tinham ido parar meus ternos, provavelmente para sempre.
    E como batiam na porta! O movimento dela lá na cozinha, eu descobria agora, era muito maior do que o meu cá na frente: vendedores de muamba, passadores de rifa, cobradores de prestação, outras empregadas perguntando por ela.
Um dia surgiu um indivíduo trazendo uma fotografia dela que, segundo me informou, merecera um “tratamento artístico”: fora colorida à mão e colocada num desses medalhões de latão que se veem no cemitério.
    – Falta pagar a última prestação – disse o homem.
    Paguei o que faltava, que remédio? Sem ao menos ficar sabendo o quanto o pobre já havia pago. E por pouco não entronizei o retrato na cabeceira de minha cama, como lembrança daquela sem a qual eu simplesmente não sabia viver.
    Verdadeiro agravo para a minha solidão era a fina camada de poeira que cobria tudo: não podia mais nem retirar um livro da estante sem dar logo dois espirros. Os jornais continuavam chegando e já havia jornal velho para todo lado, sem que eu soubesse como pôr a funcionar o mecanismo que os fazia desaparecer. Descobri também, para meu espanto, que o apartamento não tinha lata de lixo, a toda hora eu tinha de ir lá fora, na área, para jogar na caixa coletora um pedacinho de papel ou esvaziar um cinzeiro.
    Havia outros problemas difíceis de enfrentar. Um dos piores era o do pão: todas as manhãs, enquanto eu dormia, o padeiro deixava à porta um pão quilométrico, do qual eu comia apenas uma pontinha – e na cozinha já se juntava uma quantidade de pão que daria para alimentar um exército, não sabia como fazer parar. Nem só de pão vive o homem.
    Eu poderia enfrentar tudo, mas estar ensaboado debaixo do chuveiro e ouvir lá na sala o telefonema esperado, sem que houvesse ninguém para atender, era demais para a minha aflição.
    Até que um dia, como uma projeção do estado de sinistro abandono em que me via atirado, comecei a sentir no ar um vago mau cheiro. Intrigado, olhei as solas dos sapatos, para ver se havia pisado em alguma coisa lá na rua. Depois saí farejando o ar aqui e ali como um perdigueiro, e acabei sendo conduzido à cozinha, onde ultimamente já não ousava entrar.
    No que abri a porta, o mau cheiro me atingiu como uma bofetada. Vinha do fogão, certamente. Aproximei-me, protegendo o nariz com uma das mãos, enquanto me curvava e com a outra abria o forno.
    – Oh não! – recuei horrorizado.
    Na panela, a carne assada, que a empregada gentilmente deixara preparada para mim antes de partir, se decompunha num asqueroso caldo putrefato, onde pequenas formas brancas se agitavam.
    Mudei-me no mesmo dia para um hotel.


“Aos poucos, porém, passei a desejar ardentemente essa volta.” (3º§)

“A um canto do quarto um monte de roupas crescia assustadoramente.” (3º§)

“No princípio achei até bom ficar completamente sozinho dentro de casa o dia inteiro.” (1º§)

Para analisar a questão proposta, é crucial entender a definição de ironia como uma figura de linguagem em que se diz o oposto do que realmente se pensa, geralmente com intenção crítica ou humorística. Esse entendimento é fundamental para determinar qual das alternativas apresenta a ironia do narrador do texto mais claramente.

<ul style="margin-bottom: 1.5em;">
<li>A) “Mudei-me no mesmo dia para um hotel.” (14º§) 
A ironia neste trecho advém do contraste abrupto entre a insistência do narrador em se manter no apartamento, enfrentando todas as adversidades mencionadas ao longo do texto, e a decisão repentina de mudar-se para um hotel após o incidente com a carne assada putrefata. A frase destaca o limite de sua capacidade de lidar com a situação, mesmo que anteriormente ele mesmo tentasse se adaptar e gerenciar a vida sem a empregada. A expressão ressalta o desespero final em uma tentativa falha de independência.</li>

<li>B) “Aos poucos, porém, passei a desejar ardentemente essa volta.” (3º§) 
Este trecho não apresenta ironia, mas sim uma progressão natural dos sentimentos do narrador que no começo se sente bem sozinho, mas com o tempo começa a sentir a falta da empregada.</li>

<li>C) “A um canto do quarto um monte de roupas crescia assustadoramente.” (3º§) 
Mais uma vez, este trecho não mostra ironia. Ele ilustra literalmente o acúmulo de roupas sujas, mostrando a deterioração das condições do apartamento e a incapacidade do narrador de lidar com as tarefas cotidianas.</li>

<li>D) “No princípio achei até bom ficar completamente sozinho dentro de casa o dia inteiro.” (1º§) 
Embora haja um contraste neste trecho entre o sentimento inicial e a realidade posterior, não alcança a qualidade de ironia do exemplo em A, pois é mais uma mudança de percepção do que uma ironia expressa diretamente.</li>

<li>E) “Intrigado, olhei as solas dos sapatos, para ver se havia pisado em alguma coisa lá na rua.” (10º§) 
Esse trecho também não é irônico. O narrador está literalmente tentando encontrar a fonte de um mau cheiro, o que novamente mostra sua incapacidade de gerenciar o ambiente sem ajuda.</li>
</ul>

Assim, observando a técnica literária da ironia dentro dos trechos fornecidos, a alternativa A destaca-se como a única que realmente apresenta uma reviravolta irônica significativa em relação ao restante do texto.

A alternativa correta é A.

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