buscarei não me matar, em caso de absoluta felicidade.

mesmo tomado por grande infelicidade, nunca me  mataria.

sendo absolutamente feliz, não há razão para me  matar.

conquanto possa me matar, creio numa felicidade  absoluta.

se não vivesse em plena felicidade pensaria em me  matar.

Para analisar a questão e suas alternativas, é crucial entender a figura de linguagem apontada no enunciado, que é o "humor irônico". O humor irônico envolve uma forma sutil de humor, muitas vezes expressando o oposto do que as palavras literalmente significam, ou destacando uma contradição entre as expectativas e a realidade de maneira sutil e inteligente.

 

A frase citada no enunciado, "se um dia me sentir absolutamente feliz, tentarei não me matar", apresenta esse humor irônico ao associar a ideia de felicidade extrema, normalmente uma condição desejável, com a ideia de se matar, que é claramente indesejável. A ironia está no contraste entre a suposta necessidade de se "tentar" não cometer suicídio em um estado de felicidade plena.

 

Vamos analisar as alternativas para encontrar a que melhor reflete essa ironia:

 

A) buscarei não me matar, em caso de absoluta felicidade.
Essa alternativa mantém a mesma estrutura irônica da frase original. A ideia de "buscar" não se matar em um cenário de "absoluta felicidade" reflete o mesmo humor irônico pela estranheza da situação descrita.

 

B) mesmo tomado por grande infelicidade, nunca me mataria.
Aqui, a ideia é clara e direta, sem ironia, pois mostra uma resolução positiva em face da adversidade, não utilizando inversão ou humor.

 

C) sendo absolutamente feliz, não há razão para me matar.
Este mantém uma lógica direta, onde ser feliz claramente significa não ter razão para desejar a morte. Não há ironia envolvida.

 

D) conquanto possa me matar, creio numa felicidade absoluta.
Essa alternativa reflete uma contradição, mas não necessariamente com humor ou ironia sobre a condição da felicidade.

 

E) se não vivesse em plena felicidade pensaria em me matar.
Apresenta uma condição direta sobre infelicidade levando a pensamentos suicidas. A ironia, tal como necessária, não é evidente aqui.

 

Diante disso, a alternativa A é a que melhor preserva o efeito de humor irônico presente na frase original do texto.

Gabarito: Letra A

Outro dia, folheando desavisadamente um livro de 
Schopenhauer (há autores que jamais devemos frequentar 
desavisadamente...), deparei-me com este trecho: 
Trabalho, aflição, esforço e necessidade constituem 
durante toda vida a sorte da maioria das pessoas. De 
fato: se todos os desejos, apenas originados, já estives-
sem resolvidos, o que preencheria então a vida humana? 
Que se transfira o homem a um país utópico, em que 
tudo cresça sem ser plantado, em que as aves revoem já 
assadas, e cada um encontre logo sua bem-amada. Ali 
os homens morrerão de tédio ou se enforcarão; promo-
verão guerras, massacres e assassinatos para se pro-
porcionarem mais sofrimento do que o posto pela na-
tureza. 
Será mesmo que sofremos porque precisamos? É da 
nossa natureza ocupar-nos com nossos desejos insatisfeitos, 
sem os quais vivemos infelizes pela falta de uma causa para 
viver? Nosso grande poeta Drummond, um schopenhaueriano 
empedernido, chegou a escrever: “Estamos para doer, estamos 
doendo”. E outro Andrade, o Mário, garantiu-nos: “A própria dor 
é uma felicidade”. 
De minha parte modestíssima, ouso dizer: se um dia me 
sentir absolutamente feliz, tentarei não me matar. Talvez também 
não conte para ninguém, para que não me matem. De inveja.

Isso pertence ao assunto Português, ou Gramática.

Questões de Fundação Carlos Chagas - Português - Figuras de linguagem