E meu amigo falou de água, telefone, conta de luz.

Até que tenho reclamado muito isto e aquilo.

a verdade não está apenas nos buracos da rua.

as amendoeiras neste inverno deram um show luxuoso.

E aí, galera! Vamos mergulhar nessa questão de literatura que envolve uma figura de linguagem super fascinante: a personificação. A personificação, ou prosopopeia, acontece quando atribuímos características ou ações humanas a objetos, animais ou conceitos abstratos. 
 
Analisando as opções da questão: 
 
A) Esse carinho me faz bem. - Aqui, o "carinho" é apresentado como algo que proporciona bem-estar, mas não está personificado. 
B) E meu amigo falou de água, telefone, conta de luz. - Neste caso, estão sendo listados itens, sem atribuição de características humanas. 
C) Até que tenho reclamado muito isto e aquilo. - Trata-se de uma afirmação do que o narrador tem feito, sem personificação. 
D) a verdade não está apenas nos buracos da rua. - Aqui, a "verdade" é mencionada de forma abstrata, mas não personificada. 
E) as amendoeiras neste inverno deram um show luxuoso. - Bingo! Essa é a personificação. A expressão "deram um show luxuoso" atribui às amendoeiras uma ação tipicamente humana, a de dar um show, o que é uma exibição animada e fascinante. Isso traz vida e humaniza as amendoeiras de forma poética. 
 
Portanto, a alternativa correta é a letra E, onde realmente ocorre uma personificação bem marcante e ilustrativa, trazendo um toque artístico ao texto. Então, a alternativa correta é E.

− “Fico admirado como é que você, morando nesta cidade, consegue escrever uma semana inteira sem reclamar, sem protestar, sem espinafrar!” 

 E meu amigo falou de água, telefone, conta de luz, carne, batata, transporte, custo de vida, buracos na rua etc. etc. etc.

 Meu amigo está, como dizem as pessoas exageradas, grávido de razões. Mas que posso fazer? Até que tenho reclamado muito isto e aquilo. Mas se eu for ficar rezingando todo dia, estou roubado: quem é que vai aguentar me ler? Acho que o leitor gosta de ver suas queixas no jornal, mas em termos.

 Além disso, a verdade não está apenas nos buracos da rua e outras mazelas. Não é verdade que as amendoeiras neste inverno deram um show luxuoso de folhas vermelhas voando no ar? E ficaria demasiado feio eu confessar que há uma jovem gostando de mim? Ah, bem sei que esses encantamentos de moça por um senhor maduro duram pouco. São caprichos de certa fase.
Mas que importa? Esse carinho me faz bem; eu o recebo terna e gravemente; sem melancolia, porque sem ilusão. Ele se irá como veio, leve nuvem solta na brisa, que se tinge um instante de púrpura sobre as cinzas do meu crepúsculo.

 E olhem só que tipo estou escrevendo! Tome tenência, velho Braga. Deixe a nuvem, olhe para o chão – e seus tradicionais buracos.

 a confirmação de uma desconfiança há muito frequentada.

 um desmedido sentimento de revivescência.

 a ironia aguda de quem desdenha de suposta vantagem.

 a maldição que recai sobre quem se agarra ao passado.

 o impacto risível das revelações mais surpreendentes.

Ah, mano! Essa é daquelas análises que fazem a gente pensar nas entrelinhas! Vamos falar um pouco sobre a figura de linguagem usada no verso "Diabo leve quem pôs bonita a minha terra!" do poema. 
 
Primeiramente, não é difícil captar a vibe de desgosto do poeta quando fala sobre as mudanças em sua terra natal, Recife. A expressão "Diabo leve quem..." é super forte, né? Ela carrega esse peso de algo que não tá nada bacana pra quem fala. Mas bora mergulhar na análise das alternativas: 
 
A) A frase não é sobre confirmar uma desconfiança que já existia, mas sim sobre a reação a uma mudança já realizada. Então, essa não é a melhor escolha. 
 
B) A revivescência não tem nada a ver aqui. O poeta não tá curtindo uma nostalgia positiva, mas sim tá chateado com as mudanças. Portanto, isso também não encaixa. 
 
C) Cara, aqui a gente tem o jackpot! A ironia é palpável. O poeta usa o adjetivo "bonita" de um jeito irônico, tipo uma crítica a quem vê essas mudanças urbanas como melhorias. Ele demonstra um sentimento de desaprovação pela ‘beleza’ que outros veem nas novas avenidas e arranha-céus. 
 
D) A maldição é uma interpretação que poderia parecer possível por causa do "diabo leve", mas realmente o foco não é sobre quem se agarra ao passado, mas sobre a reação ao presente modificado. 
 
E) O verso carrega um impacto, sim, mas não é de um jeito cômico ou surpreendente que faça rir. É mais um impacto amargo. 
 
Dito isso, a gente consegue perceber que a ironia é a estrela desse verso. O poeta tá jogando com as palavras para mostrar que a beleza descrita por outros na verdade representa uma perda para ele. Aí, a alternativa correta é C.

Saí menino de minha terra.
Passei trinta anos longe dela.
De vez em quando me diziam: 
Sua terra está completamente mudada, 
Tem avenidas, arranha-céus...
É hoje uma bonita cidade! 

Meu coração ficava pequenino.

Revi afinal o meu Recife.
Está de fato completamente mudado.
Tem avenidas, arranha-céus.
É hoje uma bonita cidade.

Diabo leve quem pôs bonita a minha terra!

Esta velha angústia, (1ª estrofe ).

Esta angústia que trago há séculos em mim, (1ª estrofe ).

Em grandes emoções súbitas sem sentido nenhum. (1ª estrofe ).

Mal sei como conduzir-me na vida (2ª estrofe ).

Um internado num manicômio é, ao menos, alguém. (3ª estrofe ).

E aí, vamos falar sobre figuras de linguagem nestes versos? A questão aqui busca identificar onde usamos a hipérbole, que é basicamente um jeito chique de dizer que está rolando um exagero na fala para dar aquele drama ou enfatizar uma ideia. 
 
Vou te contar um pouco sobre cada alternativa: 
 
A) "Esta velha angústia" menciona a angústia como algo antigo, mas isso não necessariamente implica em exagero dramático para enfatizar a situação. 
 
B) "Esta angústia que trago há séculos em mim," agora sim estamos falando de hipérbole! A ideia de carregar um sentimento por séculos é, claramente, um exagero que amplifica a profundidade e a persistência dessa angústia, dando um peso dramático muito maior. 
 
C) "Em grandes emoções súbitas sem sentido nenhum." Aqui, temos uma descrição um tanto intensa das emoções, mas não caracteriza uma hipérbole. 
 
D) "Mal sei como conduzir-me na vida" sugere indecisão ou confusão, mas sem exagero suficiente para ser considerada uma hipérbole. 
 
E) "Um internado num manicômio é, ao menos, alguém." Essa fala expressa uma realidade dura que o sujeito poético sente sobre si mesmo em comparação a outros, sem envolver exagero. 
 
Entre essas opções, a B definitivamente acerta em cheio no uso da hipérbole, pois a ideia de sentir algo há "séculos" maximiza o impacto emocional das palavras. 
 
alternativa correta é B.

Esta velha angústia,
Esta angústia que trago há séculos em mim,
Transbordou da vasilha,
Em lágrimas, em grandes imaginações,
Em sonhos em estilo de pesadelo sem terror,
Em grandes emoções súbitas sem sentido nenhum.

Transbordou.
Mal sei como conduzir-me na vida
Com este mal-estar a fazer-me pregas na alma!
Se ao menos endoidecesse deveras!
Mas não: é este estar-entre,
Este quase,
Este poder ser que...,
Isto.

Um internado num manicômio é, ao menos, alguém.
Eu sou um internado num manicômio sem manicômio.
Estou doido a frio,
Estou lúcido e louco,
Estou alheio a tudo e igual a todos:
Estou dormindo desperto com sonhos que são loucura
Porque não são sonhos.
Estou assim...

Estou lúcido e louco, (3ª estrofe ).

No poema que você trouxe, o eu lírico se aventura por um labirinto emocional, refletindo suas lutas internas e estados de ânimo contraditórios. A banca organizadora, nesse caso, está buscando avaliar sua capacidade de interpretar paradoxos presentes no texto. Vamos lá desembrulhar esse poema! 
 
Quando falamos de um "paradoxo", estamos nos referindo a uma declaração que contradiz a si mesma, mas que, em uma análise mais profunda, pode revelar uma verdade inesperada. No contexto do poema, isso é usado para ilustrar profundamente os conflitos internos do eu lírico. 
 
A alternativa C, Estou lúcido e louco, é um clássico exemplo de paradoxo. Neste verso, o eu lírico expressa estar simultaneamente em um estado de clareza mental (lúcido) e desordem mental (louco). Isso descreve a complexidade dos sentimentos e da condição humana, onde uma pessoa pode ser racional e irracional ao mesmo tempo, um reflexo poeticamente poderoso da luta interna que o personagem enfrenta. 
 
As outras opções, embora repletas de significado e evidentes conflitos internos, não apresentam a mesma natureza paradoxal clara: 
- A Mal sei como conduzir-me na vida sugere incerteza, mas não é paradoxal. 
- B Esta velha angústia descreve um estado emocional prolongado, mas sem contradição interna. 
- D Um internado num manicômio é, ao menos, alguém. expressa uma triste realidade, mas sem contradição direta. 
- E Estou assim... é vago e não apresenta contradição explícita. 
 
Vendo por esse ângulo, o paradoxo em C encapsula uma dialética interna muito significativa para compreender o poema. Por isso, a alternativa correta é C.

um supremo humorista do nosso país.

não me lembra mais a sensação.

puxando-se pelos próprios cabelos.

um dos analistas e intérpretes mais críticos.

depois de eu chorar não sei quanto tempo.

Ah, então vamos mergulhar nessa questão sobre expressões figuradas, certo? A gente tá falando sobre aquelas maneiras de expressar algo que não deve ser levado ao pé da letra, mas sim interpretado de forma mais simbólica. Então, bora analisar cada alternativa! 
 
A alternativa A - "um supremo humorista do nosso país" - parece usar uma linguagem figurada, tipo uma hipérbole para enfatizar o quão bom o Millôr Fernandes era. Mas olha, o foco aqui é mais em exagerar a real habilidade dele, não uma figura de linguagem que muda o sentido real das palavras. 
 
A alternativa B - "não me lembra mais a sensação" - isso aqui é bem direto, não tem nada de linguagem figurada. É apenas uma expressão de uma falha na memória, sacou? 
 
A alternativa C - "puxando-se pelos próprios cabelos" - aqui sim temos o ouro! Essa expressão não deve ser entendida literalmente (seria meio doloroso e impraticável, né?), mas sim como uma maneira de dizer que ele se salvou por seus próprios esforços. É uma metáfora clássica para auto-superação. Bingo! 
 
A alternativa D - "um dos analistas e intérpretes mais críticos" - novamente, pode parecer um exagero, mas não chega a ser uma figura de linguagem que altera o significado original das palavras. É só um reforço de sua capacidade crítica. 
 
E a alternativa E - "depois de eu chorar não sei quanto tempo" - essa frase não traz nenhum tipo de linguagem figurada, é só uma maneira de falar que ele chorou por um tempo indeterminado. 
 
Resumindo, a alternativa que realmente utiliza uma linguagem figurada, criando uma imagem que vai além do sentido literal das palavras, é a alternativa correta é C.

Em antiga entrevista, Millôr Fernandes – um supremo humorista do nosso país – contou uma passagem decisiva de sua história.

 “Meu pai morreu quando eu tinha 1 ano. Minha mãe quando eu tinha 9 anos. Eu fui ao enterro, não me lembra mais a sensação. Foi aquele momento que você nem percebe muito bem o que está acontecendo. Mas aí eu voltei pra uma casa em que eu estava morando [...], de um tio pobre, funcionário público, e eu me meti então embaixo da cama [...] e aí eu chorei feito um desesperado, não tinha pai, não tinha mais ninguém, eu vivia emprestado numa casa, entende? De repente me veio uma tranquilidade depois de eu chorar não sei quanto tempo, ninguém viu isso, e veio um sentimento que mais tarde eu defini como “a paz da descrença”. A descrença me trouxe uma paz absoluta. O sentimento meu a partir daí, e depois definitivamente concretizado, é que “sou eu e o destino, não tem nenhum intermediário”, “não há interface”.

 Assumindo-se como sujeito efetivo de sua história, Millôr salvou-se do afogamento mortal puxando-se pelos próprios cabelos.
A partir daí, se afirmou como escritor, tradutor e como um dos analistas e intérpretes mais críticos deste país. A ‘paz da descrença’, paradoxalmente, aguçou sua lucidez inconformada e aquele seu humor implacável que põe a nu as encenações políticas e nossas hipocrisias pessoais. Lucidez, crítica e humor constituem, como se sabe, uma combinação fulminante.

Questões de Fundação Carlos Chagas - Português - Figuras de linguagem