 Problemas que vão de pandemias à desastres naturais acompanham a história humana.

 É preciso recorrer à diferença entre vírus e bactéria para poder saber como se prevenir.

 Regiões como a Ásia Central correspondem à relíquias que devem ser mais exploradas.

 Uma pessoa me perguntou se vivi algo histórico; disse à ela que sobrevivi a uma pandemia.

 Cabe à cada governo tomar os devidos cuidados para que novas pandemias sejam contidas.

Conhecer a regra da crase é tipo ter aquele superpoder secreto na manga quando estamos falando sobre a língua portuguesa. Vou te explicar rapidinho o que rolou em cada alternativa e porque a letra B é a que tá mandando bem na norma-padrão! 
 
A) "Problemas que vão de pandemias à desastres naturais acompanham a história humana." Aqui a gente se liga que a preposição "a" vem depois de uma expressão que indica ideia de movimento "de ... a ...", então não deveria ter crase antes de "desastres naturais", já que "desastres" é uma palavra masculina e não rola crase antes de palavra masculina. 
 
B) "É preciso recorrer à diferença entre vírus e bactéria para poder saber como se prevenir." Boa! Aqui tá corretíssimo. A crase surgiu porque temos a fusão da preposição "a" com o artigo feminino "a" antes de "diferença", que é uma palavra feminina. Crase perfeitamente usada! 
 
C) "Regiões como a Ásia Central correspondem à relíquias que devem ser mais exploradas." Oops, erraram aqui. Não deveria haver crase antes de "relíquias" porque "correspondem a" é seguido de uma palavra feminina no plural que não tem artigo antes dela. 
 
D) "Uma pessoa me perguntou se vivi algo histórico; disse à ela que sobrevivi a uma pandemia." Aqui o problema é que a crase foi usada antes do pronome pessoal "ela". A gente só usa crase antes de pronome pessoal em situações muito específicas, e essa não é uma delas. 
 
E) "Cabe à cada governo tomar os devidos cuidados para que novas pandemias sejam contidas." Aqui também escorregamos, galera! A palavra "cada" é uma exceção que dispensa o artigo definido, então não rola a crase. 
 
A alternativa correta é B.

 Merece atenção à descoberta dos pesquisadores sobre os efeitos da insônia.

 A pesquisa dedicou-se à provar a associação entre sono e problemas cognitivos.

 Há vários hábitos nocivos à saúde que prejudicam o sono das pessoas.

 Algumas condições de saúde podem ser associadas à uma insônia duradoura.

 A insônia afeta à indivíduos de todas as idades e de vários países do mundo.

A questão tem o objetivo de avaliar os conhecimentos sobre o uso da crase. A) Alternativa incorreta. A expressão "a descoberta dos pesquisadores sobre os efeitos da insônia" é o sujeito. Não se usa crase.B) Alternativa incorreta. Não se usa crase antes de verbo.C) Alternativa correta. O termo "nocivo" exige a preposição a. O termo "saúde" se antecipa pelo artigo "a". Usa-se a crase.D) Alternativa incorreta. Não se usa crase antes do artigo indefinido "uma".E) Alternativa incorreta. O verbo exige a preposição, mas há uma incongruência no gênero e no número. A preposição não é seguida de artigo, que seria "os". Além disso, o termo é masculino. Não se usa crase antes de termo no masculino.

Vamos mergulhar nessa jornada pela norma-padrão da língua e entender porque a alternativa correta é a letra B. 
 
A frase apresenta essencialmente algumas regências que precisamos tratar com carinho. Digo isso porque as preposições em português têm lá suas manhas, né? Então, vamos por partes: 
 
1. "Alguns especialistas acreditam que o cigarro eletrônico poderia induzir os jovens **a fumar** cigarros comuns." 
 Aqui usamos "a" porque a expressão "induzir alguém a fazer algo" pede a preposição "a". 
 
2. "Outros destacam os efeitos nocivos do próprio cigarro eletrônico **às pessoas** que passam a usá-lo." 
 Em "destacam os efeitos nocivos […] às pessoas", a preposição "a" é combinada com o artigo "as" porque estamos falando de efeitos direcionados "às pessoas", ou seja, uma regência que requer o "a" com crase, porque antecede um artigo feminino plural. 
 
3. "Fato é que tanto um como outro contêm substâncias associadas **à progressão** do vício," 
 Mais uma vez, a combinação artigo + preposição aparece em "associadas à progressão", pois a expressão "associado a" exige a preposição simples "a", que se craseia quando precedida de palavra feminina, formando "à". 
 
4. "assim como **a incontáveis** problemas de saúde." 
 Aqui a expressão é "assim como", que basicamente justapõe situações sem necessitar de crase, e usa-se "a incontáveis problemas" indicando indiretamente inúmeros problemas, uma vez que "problemas" é um substantivo masculino e a preposição "a" permanece sem crase. 
 
Portanto, a combinação toda se encaixa perfeitamente na alternativa B. Fica fácil quando você coloca tudo na mesa, não é mesmo? Por isso, a alternativa correta é B.

Especialistas apontam várias razões de saúde para conter a disseminação de cigarros eletrônicos. Cabem, no entanto, dúvidas sobre a eficácia e objeções quanto ao fundamento da decisão da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) de manter a proibição baixada em 2009.

 Há indícios convincentes de que os dispositivos funcionem como porta de entrada para o hábito de fumar. Podem, assim, originar ou manter a dependência química. Levantamento da Fiocruz indicou que jovens usuários de cigarros eletrônicos têm risco maior de se tornarem tabagistas na idade adulta. Segundo a Associação Médica Brasileira, cerca de 80 aerossóis neles produzidos contêm substâncias tóxicas. Pior, algumas delas são potencialmente cancerígenas.

 Apesar disso e da proibição ora reiterada pela agência federal, os produtos se encontram à venda em toda parte pelo Brasil. Entram no país por meio de contrabando. As danosas engenhocas se tornaram populares entre adolescentes. Além de simbolizar status social, carregam como atrativo a adição de sabores de fruta ou refrescantes ao líquido vaporizado.

 Em mais de uma década de proibição no território nacional, autoridades se mostraram impotentes em coibir a comercialização. A proibição, apenas, não terá o condão de produzir tal resultado. Informar e desestimular o consumo pode ser mais produtivo que tentar erradicá-lo. Com álcool e outras drogas, o proibicionismo já se comprovou ineficaz e de alto custo social.

 A solução racional é regulamentar o uso adulto, dado que não cabe ao Estado determinar o que indivíduos autônomos decidem sobre o próprio corpo. Mas há que prover meios para a fiscalização de normas rigorosas quanto a teores e vendas, além de campanhas educativas sobre malefícios à saúde.

Butiá refere-se à uma fruta pequena, pouco maior que uma bola de gude.

Há quem ache que exista uma “aristocracia global”, transmitindo sua fortuna de geração à geração.

Nem todas as riquezas ocorrem devido às heranças.

Muitas doações se devem à filantropos do mundo todo.

Quando as pessoas começarão à se preocupar com a base da pirâmide?

E aí, vamos dar uma olhada nessa questão de crase? O lance é saber quando usar o "à", né? Pra começar, crase é a fusão da preposição "a" com o artigo feminino "a" ou "as", aparecendo como "à" ou "às". Importante lembrar que a crase só rola antes de palavras femininas. 
 
Vamos analisar as alternativas, beleza? 
 
A) "Butiá refere-se à uma fruta pequena, pouco maior que uma bola de gude." – Aqui, erraram na marcação, pois "uma" é artigo indefinido e a crase não ocorre antes de artigos indefinidos. Então, nada de crase. 
 
B) "Há quem ache que exista uma 'aristocracia global', transmitindo sua fortuna de geração à geração." – Também erraram aqui. A expressão correta seria "de geração a geração", um jeito de dizer que algo passa de uma geração para outra, sem necessidade de artigo, logo sem crase. 
 
C) "Nem todas as riquezas ocorrem devido às heranças." – Show, essa tá certa! Aqui a crase funciona porque temos a preposição "a" unida com o artigo definido "as", formando "às". É o "devido a" (preposição) mais "as heranças" (artigo definido mais substantivo feminino plural). 
 
D) "Muitas doações se devem à filantropos do mundo todo." – Ops, falha aqui. "Filantropos" é masculino, então não tem como rolar crase. 
 
E) "Quando as pessoas começarão à se preocupar com a base da pirâmide?" – Erraram de novo. Não se usa crase antes de verbos, então nada de crase antes de "se preocupar". 
 
A alternativa correta é C.

Fernando Schüler

 No auge da brabeza global pela compra do Twitter, por Erlon Musk, li um curioso argumento, dito por um ativista de redes sociais. Segundo ele, toda vez que Musk fica mais rico, a humanidade ficaria mais pobre. Na sua cabeça, a riqueza global deve ser como uma espécie de bolo gigante, de modo que, se algum guloso pega um naco muito grande para si, sobra menos para os demais. Uma deputada resolveu ser mais direta: bilionários “nem deveriam existir”, disse ela. Me caiu os butiá dos bolso*, como se diz lá no Sul. O que o sujeito faria, exatamente, se abrisse uma empresa e ela começasse a crescer? Se, vendendo sua participação, outros ficassem bilionários? Por que ele continuaria investindo e fazendo negócios? Por esporte? Desconfio que não ia funcionar.

 Há uma enorme confusão aí sobre como se gera valor e como alguém se torna um bilionário, em uma economia de mercado. O bilionário que eu mais ajudo a ser um bilionário é Jeff Bezos. Não compro ações, mas livros, em sua loja virtual. Eu poderia comprar ali na livraria do bairro, que segura as pontas como pode, mas acabo não me dando ao trabalho.
Às vezes penso que estou sendo egoísta fazendo isso. Em todo caso, ao menos no que me diz respeito, a teoria daquele ativista não funciona. A cada vez que eu compro um livro lá, Bezos fica mais rico e eu de bem com a vida.

 Há quem ache que exista uma “aristocracia global”, transmitindo sua fortuna de geração em geração. De fato, há muita gente que herda sua fortuna. Não vejo problema nisso. Há os que investem ainda mais, geram ainda mais riqueza, e outros torram tudo. Me lembro das histórias de pessoa gastando até o último centavo e batendo as botas sem um vintém, num hotel de luxo. Há os que ganham pelo casamento, como a ex-mulher do Bezos, Mackenzie Scott, que se tornou uma das mais ativas filantropas do planeta. Semanas atrás, doou 27 milhões de reais à ONG brasileira Gerando Falcões, focada em criar oportunidades para jovens de menor renda.

 A primeira coisa interessante a discutir sobre os bilionários é sobre como foi obtido o dinheiro. Se o sujeito cria uma empresa inovadora, oferecendo algo que melhore a vida das pessoas, temos mais é que contar a sua história em nossas escolas e inspirar mais jovens nessa direção. Foi o que fez Pedro Franceschi, guri carioca de 25 anos que criou uma fintech** inovadora, de cartões de crédito. E este ano consta lá da lista dos mais ricos, da Forbes, com 1,5 bilhão. Vai fazer o que com Pedro? Pedir a ele que devolva meio bilhão? Pedir para ele se aposentar? De minha parte, acho o oposto. É bom que ele exista, e que o seu sucesso sirva de exemplo.
Ideias inovadoras fazem o mundo andar para a frente.

 O que realmente deveríamos combater é a riqueza obtida da fraude, dos privilégios criados para alguns.

 O que realmente deveríamos fazer é mudar o disco. Em vez do ranço contra quem inova e gera valor, perder o sono com o que se passa na base da pirâmide. Perguntar como é possível, em pleno 2022, que um quarto da população viva em situação de pobreza ou extrema pobreza e que ensinemos menos de 5% do que nossos alunos deveriam saber de matemática, nas redes públicas, no fim do ensino médio, depois imaginando que eles terão boas chances no mercado de trabalho.

 É preciso olhar para a frente, em vez de tomar, todo santo dia, o veneno das velhas ideias.

* Me caiu os butiá dos bolso = expressão regionalista típica do Rio Grande do Sul. Usa-se para dizer que a pessoa está impressionada, assustada. 
** fintech = termo que surgiu da união das palavras “financial” e “technology” = tecnologia e inovação aplicadas na solução de serviços financeiros.

Vamos quebrar essa parada e entender melhor como a crase entra na jogada. A crase é aquela história do "a" do artigo se fundindo com o "a" da preposição, né? Então, foco no lance: 
 
1. "Imagino que em algum lugar do mundo há alguém que se dirige, por acaso, a uma gaveta qualquer..." 
 - Aqui, não há crase antes de "uma gaveta", porque é uma expressão de modo indefinido — não especifica qual gaveta. Então, só a preposição "a" rola aqui. 
 
2. "encontra uma velha carta minha, passa os olhos por curiosidade no que escrevi, nega-se a rasgá-la..." 
 - Novamente, só a preposição. Afinal, "rasgar" é um verbo no infinitivo que não exige artigo, então nada de crase. 
 
3. "...e depois a lança à gaveta com um gesto de displicência." 
 - Aqui sim, a gente usa crase. Por quê? Porque está falando de uma ação direcionada a um lugar específico, a gaveta, que é feminina (gaveta = a gaveta). 
 
Então, jogando na real, a sequência que se encaixa correto é: sem crase, sem crase, com crase, ou seja, "a … a … à", que corresponde à alternativa B. 
 
alternativa correta é B.


    “Você nunca saberá o bem que sua carta me fez…” Sinto um choque ao ler esta carta antiga que encontro em um maço de outras. Vejo a data, e então me lembro onde estava quando a recebi. Não me lembro é do que escrevi que fez tanto bem a uma pessoa.

    Agora folheio outras cartas de amigos e amigas; são quase todas de apenas dois ou três anos atrás. Mas, como isso está longe! Sinto-me um pouco humilhado pensando como certas pessoas me eram necessárias e agora nem existiriam mais na minha lembrança se eu não encontrasse essas linhas rabiscadas em Londres ou na Suíça. “Cheguei neste instante; é a primeira coisa que faço, como prometi, escrever para você, mesmo porque durante a viagem pensei demais em você…” 

    Isto soa absurdo a dois anos e meio de distância. Não faço a menor ideia do paradeiro dessa mulher de letra redonda; ela, com certeza, mal se lembrará do meu nome. E esse casal, santo Deus, como era amigo: fazíamos planos de viajar juntos pela Itália; os dias que tínhamos passado juntos eram “inesquecíveis”. Essa que se acusa e se desculpa de me haver maltratado, mas eu não me lembro de mágoa nenhuma, seu nome é apenas para mim uma doçura distante.

    Imagino que em algum lugar do mundo há alguém que neste momento remexe, por acaso, uma gaveta qualquer, encontra uma velha carta minha, passa os olhos por curiosidade no que escrevi, hesita um instante em rasgar, e depois a devolve à gaveta com um gesto de displicência, pensando, talvez: “é mesmo, esse sujeito onde andará? Eu nem me lembrava mais dele…” 

    E agradeço a esse alguém por não ter rasgado a minha carta: cada um de nós morre um pouco quando alguém, na distância e no tempo, rasga alguma carta nossa, e não tem esse gesto de deixá-la em algum canto, essa carta que perdeu todo o sentido, mas que foi um instante de ternura, de tristeza, de desejo, de amizade, de vida – essa carta que não diz mais nada e apenas tem força ainda para dar uma pequena e absurda pena de rasgá-la.


Questões de Fundação Vunesp - Português - Uso da crase - 2022