Nesta questão, o enunciado convida o candidato a identificar as expressões que sintetizam a postura autoritária e dogmática no ensino de Língua Portuguesa, conforme crítica apresentada no texto. O autor refuta a ideia de que a reflexão sobre a gramática e o ensino da norma padrão devam ser estritamente vinculados a uma abordagem rígida e autoritária. Ao contrário, a proposta defendida é de integrar o estudo gramatical de maneira funcional, associada às práticas comunicativas e à reflexão sobre a própria língua. Assim, a crítica está direcionada aos excessos representados pelas expressões “gramatiquice” e “normativismo”.

Análise das Alternativas:
<ul style="margin-bottom: 1.5em;">
 <li>A) reflexão gramatical e norma padrão: Estas expressões, apesar de aparecerem no texto, não carregam a crítica relacionada ao autoritarismo no ensino. A preocupação do autor é integrar essas questões de forma funcional e reflexiva, e não rejeitá-las integralmente.</li>
 <li>B) gramática e dicionário: Embora o dicionário seja mencionado como referência para se entender o vocabulário gramatical básico, ele não é criticado como parte de uma postura autoritária, assim como o estudo da gramática em si, quando associado à reflexão e à prática.</li>
 <li>C) gramatiquice e normativismo: Essa é a alternativa correta. No texto, o autor critica justamente essas atitudes – a “gramatiquice” se refere à prática de aplicar a gramática de forma mecânica e inflexível, enquanto o “normativismo” aponta o excesso de rigidez e a imposição dogmática das normas, sem considerar seu uso prático na comunicação.</li>
 <li>D) competência e funcionamento: Estas expressões estão relacionadas à necessária integração das atividades de fala e escrita, ou seja, ao desenvolvimento da competência linguística, e não representam uma postura autoritária ou dogmática.</li>
 <li>E) modelo medieval e modelo pedagógico: Enquanto o “modelo medieval” de ensino é criticado no final do texto, a expressão “modelo pedagógico” não tem função de representar uma postura autoritária, pois o texto critica especificamente a abordagem tradicional, reforçando a importância da reflexão gramatical e do ensino funcional.</li>
</ul>

Alternativa Correta:
A alternativa C é a correta, pois as palavras “gramatiquice” e “normativismo” simbolizam a rigidez e a postura autoritária criticadas no ensino da gramática. Essas abordagens são apontadas pelo autor como limitadoras, pois mantêm o ensino de conteúdos gramaticais desvinculado da prática comunicativa, afastando-se do objetivo de ampliar o domínio da fala e escrita, e impedindo o desenvolvimento de uma atitude reflexiva e sistematizada sobre a língua.

Gabarito: Letra C

    A crítica à gramatiquice e ao normativismo não significa, como pensam alguns desavisados, o abandono da reflexão gramatical e do ensino da norma padrão. Refletir sobre a estrutura da língua e sobre seu funcionamento social é atividade auxiliar indispensável para o domínio da fala e da escrita. E conhecer a norma padrão é parte integrante do amadurecimento das nossas competências linguístico-culturais. O lema aqui deve ser: reflexão gramatical sem gramatiquice e estudo da norma padrão sem normativismo.
    Não cabe, no ensino de português, apenas agir no sentido de os alunos ampliarem seu domínio das atividades de fala e escrita. Junto com esse trabalho (que é, digamos com todas as letras, a parte central do ensino), é necessário realizar sempre uma ação reflexiva sobre a própria língua, integrando as atividades verbais e o pensar sobre elas.
    Esse pensar visa à compreensão do funcionamento interno da língua e deve caminhar de uma percepção intuitiva dos fatos a uma progressiva sistematização, acompanhada da introdução do vocabulário gramatical básico (aquele que é indispensável, por exemplo, para se entender as informações contidas nos dicionários). No fundo, trata-se de desenvolver uma atitude científica de observar e descrever a organização estrutural da língua, com destaque para a imensa variedade de formas expressivas alternativas à disposição dos falantes.
    Desse modo, se os conteúdos gramaticais não podem desaparecer do ensino, também não podem simplesmente permanecer arrolados e repassados como no ensino tradicional. Só existe sentido em estudar gramática, se esses conteúdos estão claramente subordinados ao domínio das atividades de fala e escrita, isto é, se eles têm efetiva relevância funcional.
Ou, dito de outro modo, se conseguimos romper radicalmente com o modelo pedagógico medieval de ensino de língua, conforme descrito anteriormente.


 os brinquedos serem representados por palavras, e as palavras não serem representadas por brinquedos.

 o papagaio ser uma ave e apenas a bola e o pião serem brinquedos.

 apenas os brinquedos poderem ser renovados após se gastarem no dia a dia.

 as palavras não serem manuseadas como a bola, o papagaio e o pião, justo por não serem brinquedos.

 apenas as palavras serem como a água do rio ou como cada dia.

Analisando o poema proposto, percebemos que o texto estabelece uma analogia entre dois tipos de brincadeiras: uma com “bola, papagaio, pião” e outra com “palavras”. No primeiro caso, os objetos físicos, após o uso constante, acabam se desgastando, não mantendo sua vivacidade com o tempo. Por outro lado, as palavras, quando manipuladas na poesia, demonstram uma característica singular: elas se renovam, permanecendo sempre novas, tal quais a água de um rio que se renova ou um dia que desponta com novas possibilidades. Essa comparação ressalta a ideia de que o brincar com palavras é uma atividade que não esgota as fontes da criatividade e da imaginação, mas sim as alimenta e revigora.

A alternativa E, “apenas as palavras serem como a água do rio ou como cada dia”, capta precisamente essa diferença ressaltada no poema. Enquanto os brinquedos terminam por perder sua vivacidade com a prática contínua, as palavras ganham um caráter perene e regenerador, favorecendo infinitas possibilidades criativas. Essa renovação é fundamental no processo de criação poética, visto que a linguagem, ao ser manipulada com liberdade e imaginação, transcende suas limitações físicas e se torna uma fonte inesgotável de novas interpretações e significados.

As demais alternativas não conseguem abarcar essa ideia central do texto de forma satisfatória, seja por estabelecer relações imprecisas ou por focarem em aspectos que não refletem a essência do que o poeta deseja transmitir. Por exemplo, as alternativas A, B e D trazem elementos que não sustentam a comparação proposta, enquanto a alternativa C erra ao sugerir que apenas os brinquedos se renovam, quando, na verdade, o oposto ocorre. Assim, a alternativa E é a que melhor resume a mensagem do texto quanto à natureza única das palavras em contraste com os objetos físicos.

Portanto, a alternativa correta é aquela que ressalta que as palavras possuem a qualidade de se renovar constantemente, como a água do rio ou um novo dia, ressaltando a essência vital e renovadora da linguagem na poesia.

Gabarito: Letra E

Poesia é brincar com palavras
como se brinca
com bola, papagaio, pião.

Só que bola, papagaio, pião
de tanto brincar
se gastam.

As palavras não:
quanto mais se brinca com elas
mais novas ficam.

Como a água do rio que é água sempre nova.
Como cada dia que é sempre um novo dia.
Vamos brincar de poesia?


Alternativa Correta:

A crítica feita pelo leitor na carta ao jornal direciona-se à utilização de uma palavra considerada pela norma culta como inadequada ou vulgar num veículo de comunicação que prima pela qualidade linguística. Nesse contexto, ao analisar as alternativas, percebemos que “mulherada” é o termo que se encaixa nessa crítica. Embora expressem a criatividade e a informalidade, termos como “carioquice”, “contramão”, “mix” ou “shows” apresentam-se como expressões de uso corrente sem possuir, em geral, conotações depreciativas. Por outro lado, “mulherada” pode ser interpretado como uma generalização que, em alguns contextos, pode denotar um estereótipo ou ser visto como desrespeitoso.

Ao utilizar a palavra “mulherada”, o autor da nota faz referência a um grupo de mulheres de forma genérica, o que pode transmitir uma ideia menos cuidadosa com as nuances e a diversidade das pessoas, contribuindo para uma leitura que não está condizente com a elevada exigência de qualidade linguística esperada do periódico. A carta do leitor argumenta que a nota mantém um nível qualificado de linguagem, porém a escolha por esse termo específico conflita com essa premissa. Esse tipo de análise está em consonância com a observação de que a linguagem jornalística deve prezar pelo respeito e pela adequação, evitando generalizações que possam ser interpretadas com um tom depreciativo ou informal.

Portanto, ao analisar as alternativas apresentadas e considerando a crítica quanto à utilização de um termo vulgar e pouco adequado, identificamos que a palavra “mulherada” é a que gera a discordância por os seus efeitos negativos na recepção da mensagem pelo leitor que espera rigor e formalidade na linguagem do jornal.

Gabarito: Letra D

Ao analisar a frase “Ideologia, eu quero uma pra viver!”, percebemos que o numeral "uma" está funcionando aqui como um quantificador cardinal. Isso implica que o enunciador expressa o desejo de ter uma única ideologia, não merecendo o sentido de indeterminação ou quantidade indefinida que poderia ser transmitida por um pronome indefinido. Assim, se interpretarmos "uma" como numeral, estamos limitando o objeto do desejo a uma única unidade.

Com isso, a oposição que se estabelece é entre o querer ter “uma ideologia” e o querer ter um número plural ou outra representação quantitativa ou qualitativa do objeto do desejo. Assim, vamos analisar as alternativas:

<ul style="margin-bottom: 1.5em;">
 <li>A) outra ideologia. – Esta opção sugere simplesmente uma ideologia diversa, mas nenhuma indicação quantitativa que contrarie o numeral “uma”.</li>
 <li>B) uma filosofia. – Apesar de haver uma oposição entre “ideologia” e “filosofia”, não há contraste quantitativo implícito.</li>
 <li>C) algumas ideologias. – Aqui o advérbio “algumas” amplia o número de ideologias, mas essa redução não destaca de forma enfática o contraste numérico pretendido.</li>
 <li>D) a morte. – A oposição entre “ideologia” e “morte” estabelece uma comparação existencial, sem relação com o aspecto cardinal.</li>
 <li>E) duas ou três. – Esta alternativa contrapõe claramente o desejo por "uma ideologia" com o desejo por uma pluralidade (duas ou três) de ideologias. Essa oposição evidencia a ênfase na quantidade, justamente no aspecto numérico que o enunciador deixa implícito ao utilizar o numeral “uma”.</li>
</ul>

Dessa forma, a alternativa correta é a que contrapõe o desejo de ter uma única ideologia à possibilidade de ter uma quantidade plural, destacando a relevância do numeral como quantificador. A escolha de “duas ou três” ressalta essa oposição, reforçando que, ao usar “uma” como numeral cardinal, o enunciador quer expressar a ideia de singularidade, e não de múltiplas ideologias.

Alternativa Correta:

A alternativa E está correta, pois contrapõe a ideia de ter uma única ideologia à de ter pluralidade (duas ou três ideologias), o que evidencia a interpretação do numeral cardinal “uma” em oposição à multiplicidade.

Gabarito: Letra E

Análise do Enunciado e do Texto:
O texto apresentado aborda a hermenêutica negra, enfatizando a importância dessa abordagem para a interpretação das normas jurídicas em face das desigualdades e das experiências sociais diversas, especialmente quanto à questão racial. Ao mencionar que as experiências e a lógica interna dos indivíduos, determinada pela posição social e racial, podem influenciar a interpretação do direito, o texto reforça que a hermenêutica negra amplia a visão crítica e antirracista na aplicação das leis. Dessa forma, o método contribui para preencher uma lacuna interpretativa, considerando tanto a perspectiva do dominante quanto do dominado, e, assim, proporciona uma interpretação mais ampla e justa da norma positivada.

Alternativa Correta:
A alternativa "C) Certo" está correta, pois ao analisar o trecho "a obra propositadamente intitulada Pensando como um negro: ensaio de hermenêutica jurídica" e a subsequente argumentação sobre a importância do olhar crítico na interpretação legal, conclui-se que a hermenêutica negra de fato amplia as perspectivas de interpretação da lei. Essa perspectiva não só considera os elementos jurídicos já previstos na norma, mas também os elementos sociais e históricos que influenciam a leitura e a aplicação do direito, sobretudo em contextos marcados pelo racismo estrutural e pela desigualdade.

Ao expandir os horizontes interpretativos, a hermenêutica negra permite que o Poder Judiciário procure um equilíbrio mais efetivo na aplicação das normas, garantindo que a justiça seja aplicada de forma equitativa. Por meio dessa reflexão, os operadores do direito podem se debruçar sobre questões antes negligenciadas na interpretação tradicional, contribuindo, assim, para a construção de um ordenamento jurídico que atenda aos princípios fundamentais de igualdade e justiça constitucional.

Portanto, a aplicação da hermenêutica negra contribui efetivamente para uma ampliação das perspectivas de interpretação da lei, o que confirma a correção da alternativa "C) Certo".

Gabarito: Letra C

Entende-se da leitura do texto que a aplicação da hermenêutica negra contribui para uma ampliação das perspectivas de interpretação da lei.


A noção de igualdade, à luz da hermenêutica negra, deve levar em consideração as particularidades e desigualdades que a categoria raça carrega, porque, sendo o racismo estrutural e estruturante, a ideia de como a raça afeta as vidas daqueles que interpretam a norma e também daqueles que são afetados por ela se distingue entre os grupos sociais.
 As pessoas não possuem a mesma experiência social, a depender do seu lugar social, razão pela qual podem interpretar o direito exclusivamente a partir de sua lógica interna. Com base na perspectiva da igualdade como princípio e projeto constitucional, a obra propositadamente intitulada Pensando como um negro: ensaio de hermenêutica jurídica fornece substratos para um raciocínio crítico antirracista na interpretação das normas e aplicação nas relações jurídicas, centralizando a questão a ser discutida e decidida a partir da visão do negro como elemento atuante no caso concreto, na condição de agente ou paciente.
 A hermenêutica negra, assim, preenche lacuna de interpretação, visto a mesma fonte poder ser interpretada pela ótica do dominante e do dominado, competindo ao Poder Judiciário equilibrar a aplicação da norma positivada na busca da concretização de uma solução justa.
Silvia Isabelle R. T. do Vale et al.

Julgue o item subsequente, em relação às ideias e a aspectos linguísticos do texto precedente.


Questões de Português - Compreensão e interpretação de textos